Prefira a teoria aos “macetes”.

Dar ouvidos a cada dica, macete ou sacada pode ser mais difícil do que aprender a teoria.

Em “tempos de internet”, é cada vez mais fácil ter acesso a diversos conselhos sobre empresas, marketing e produtos. Há vários empreendedores e empresas escrevendo posts e fazendo vídeos sobre “uma dica única e eficaz de se ter resultados extraordinários em alguma coisa”.

De fato, há muito material bom com dicas que realmente podem dar muito resultado. Mas quando eu me deparo com tantos exemplos e conselhos como esses eu me pergunto:

“Como eu vou lembrar de todos eles?”

Você não tem a impressão que não é possível lembrar de todos eles? É claro, talvez o ideal seria lembrar apenas dos mais importantes ou, então, dos que são mais aderentes ao seu caso. Mas como você vai ficar os classificando desse modo de um jeito que seja sustentável?

É por isso que eu prefiro a teoria aos “macetes” (dicas, sacadas, pontos, mantras, etc).

Os dois sentidos para “teoria”.

É muito importante separarmos o sentido popular atribuído a “teoria” do científico.

Popular

Com o passar do tempo, o termo “teoria” passou a ser utilizado popularmente para destacar ideias que não têm evidências concretas. Nesse sentido, a palavra seria praticamente um sinônimo de especulação. Eu não tenho formação em línguas, tampouco em comunicação para explicar com fundamento científico as razões disso acontecer.

Entretanto, não são raras as vezes que podemos observar pessoas se justificando ou, então, sendo cautelosas através de expressões como:

“Na teoria funciona.”

Sejam quais foram as razões para o surgimento desse sentido, o fato é que o termo “teoria” caiu em desgraça. Por isto que é tão importante que olhemos objetivamente para o outro sentido, o científico.

Científico

Aqui a história é outra. Para a ciência uma teoria consiste num conjunto de conhecimentos relacionados a uma determinada área e uma problemática. Além disso, é importante destacar que esses conhecimentos precisam ser estruturados por uma série de elementos que elucidam a formação da teoria em questão.

Embora eu goste de falar sobre a formação de teorias, tenho receio de me alongar muito nessa questão que para este post é apenas transitória para o que eu quero explicar. Assim, se você tem curiosidade sobre o assunto eu recomendo a leitura desse excelente post: “O que é uma teoria?”.

Mas o importante para darmos sequência neste post é que você fique ciente de que existem esses dois sentidos para “teoria” e que não reconhecê-los pode prejudicar o nosso entendimento sobre o assunto 😉

Dicas que são melhores explicadas e entendidas pelas teorias.

Lembra que eu comentei sobre uma série de materiais que explica dicas, macetes, sacadas, etc?

Então, separei duas delas que de fato são dicas muito boas e bastante populares. São elas:

  1. “Erre rápido” (se você pesquisar esse termo no Google ou no Youtube pode ficar surpreso com a quantidade de resultados).
  2. “Venda o resultado/transformação e entregue o produto” (mesma coisa, há muito material).

Alguma delas é familiar?

Novamente, elas são ótimas dicas sim. Este não é o problema, o problema é ficar lembrando de todas. Por isto eu prefiro entender uma teoria.

Vamos lá então…

“Erre rápido”

Este é um dos fundamentos do Lean Startup. Já ouviu falar em Lean Startup (Startup Enxuta)? Eu acredito que sim. O “errar rápido” vende muito bem a ideia de que devemos iterar rapidamente pelo ciclo do Lean.

Ciclo do Lean Startup.

Entender os conceitos do Lean Startup cobre essa dica e mais uma centena de outras. Recomendo a leitura.

“Venda o resultado/transformação e entregue o produto”

O que alguns “gurus” do marketing chamam de resultado ou de transformação, eu, ou melhor, a teoria do Jobs To Be Done chama de progresso. As pessoas compram determinado produto para resolver um job. E uma vez que este job é resolvido, elas têm progresso.

Simples.

Quando se entende que o seu objetivo enquanto empresa é entregar progresso para os seus clientes, fica bastante óbvio o que você deve comunicar.

Entretanto, há uma grande diferença entre as dicas e a teoria. Enquanto as dicas focam em surpreender você, introduzindo algo novo, porém pouco acionável, a teoria lhe dá instrumentos para descobrir que “progresso” é este que os clientes procuram.

Jobs To Be Done enfatiza que é preciso conversar com os clientes para que se descubra o progresso que eles esperam ter ao consumirem um produto. Aliás, este é outro ponto bastante válido das teorias, elas não se fundamentam em adivinhações ou ideias suas e, sim, em evidências (nesse caso, entrevistas com clientes).

Não é fácil encontrar uma teoria para o nosso problema.

Tudo bem, isto é verdade.

Muitas vezes estamos diante de uma situação muito particular e acreditar que há uma teoria para isto é quase impossível. Mas o fato é que muitas vezes estamos enganados. Nós seres humanos temos uma tendência muito forte em julgarmos nossos problemas como únicos e extremamente individuais.

Mas a realidade muitas vezes se mostra ao contrário. Os problemas, principalmente os que envolvem pessoas (consumidores), se repetem em diversas áreas e situações. O próprio framework Jobs To Be Done se estabelece apto a tratar quaisquer tipos de produtos como vimos no post “Precisamos falar sobre Jobs To Be Done e milkshakes (Parte 1 e 2)”.

Critiquei as dicas e estou aqui lhe dando uma…

Parecia hipocrisia, eu sei. Mas a questão aqui é simples: se você tem um trabalho crítico para ser feito, procure fundamentação teórica. As teorias são muito boas em estruturar o problema que precisamos resolver e elucidar o que pode servir como solução e, principalmente, o que não pode.

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